Brasília, 18 de outubro de 2013

Prezados colegas,

O dia dezoito de outubro é dedicado pela Igreja Católica a São Lucas, autor de um dos quatro evangelhos e dos Atos dos Apóstolos. Desde a Idade média, também é comemorado o Dia dos Médicos nesta data. Este hábito iniciou-se em Pádua, que se diz possuidora de restos mortais do evangelista e esta data coincidia com o início do ano letivo da sua Faculdade de medicina na época.

Temos poucas referências históricas sobre o exercício da profissão médica por Lucas, mas S. Paulo, seu amigo e conversor, gentio e grego com ele, refere-se ao mesmo em sua carta ao Colossenses como “Nosso amado médico”. Também os especialistas em evangelhos nos informam que muitos termos do jargão médico da época são encontrados em seu texto. Inegavelmente o texto de Lucas é uma obra de arte, cheia de imagens fabulosas e poderosas para cura. Isto nos faz lembrar que ele era, além de médico, pintor e músico. Seu evangelho é um relato poético do nascimento e da vida de Jesus e traz a dramaticidade do acontecimento crístico em uma dimensão emocionante até para os agnósticos. São puras imagens em ação.

Outro conteúdo bíblico, desta vez do Antigo Testamento, ligado à nossa profissão é a história de Tobias, filho de Tobit, salvo e conduzido pelo Archanjo Raphael. É um livro apócrifo para os Protestantes e não consta na Tora judaica, mas é aceito pela igreja católica como inspirado. Nele Tobit, um homem de moral e fé ilibada, cumpridor de todos os deveres e sepultador dos mortos, sofre o infortúnio da cegueira ao ser atingido por fezes de pardal. Por ajudar a todos e ser um verdadeiro Hebreu pede em oração a Javé por sua morte. O Arcanjo Rafael fornece inspiradamente, por meio de Tobias o seu filho, a solução para a sua cegueira: um ungüento feito per fel de peixe. Pois é, bile de peixe como redentor de enfermidade causada pelas fezes de pássaro!

Também Tobias recebe de Rafael a cura para sua futura esposa possuída por um demônio que matava os seus maridos na primeira noite de núpcias. Asmodeu, o Deus da Luxúria, o príncipe de Sodoma, aquele que pode fazer da alma concupiscente sua escrava matando o seu Senhor Espiritual é vencido e afastado quando se queima o coração e o fígado do peixe. São imagens poderosas para uma reflexão de nossa parte.

Pergunto-me: quanto terei de queimar meu coração e meu fígado, meus sentimentos e minhas vontades, para que surja destas cinzas o Verdadeiro Peixe (Ichthys – Ieosus Christós Theou Hyiós Soter) em mim? Quanto terá de sofrer meus olhos com a aparente injustiça da enfermidade para que o fel amargo da consciência me faça obter a clareza da Cura. Para que eu me livre da cegueira luxuriosa que vivo, baseando-me apenas em meus sentidos?

Por fim, roubando de Lucas uma das suas imagens evangélicas, conclamo: Médico, cura-te a ti mesmo; tudo que ouvimos dizer que fizestes em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua terra.

Feliz e profícuo dia dos Médicos!

ABMA – Paulo Tavares